quinta-feira, 26 de abril de 2012

Narciso


Quando Narciso nasceu, sua mãe, uma ninfa belíssima, consultou o adivinho Tirésias para saber se aquele filho de extraordinária beleza viveria até o fim de uma longa velhice. Pareceram sem sentido as suas palavras:
— Sim, se ele não chegar a se conhecer.
Narciso cresceu, sempre formoso. Jovem, muitas moças e ninfas queriam o seu amor, mas o rapaz desprezava a todas.
Um dia, Narciso caçava na floresta quando a ninfa Eco o viu. Eco, por causa de uma punição que Hera lhe infligira, só era capaz de usar da voz para repetir os sons das palavras dos outros. Ao se deparar com a beleza de Narciso, a ninfa se apaixonou por ele e se pôs a segui-lo. Quando resolveu manifestar o seu amor, abraçando-o, Narciso a repeliu. Desprezada e envergonhada, Eco se escondeu nos bosques com o rosto coberto de folhagens. O amor não correspondido a foi consumindo pouco a pouco, até que, depois de reduzida a pele e osso, seu corpo se dissipou nos ares. Restou-lhe, apenas, a voz e os ossos, que, segundo dizem, tomaram a forma de pedras.
Um dia, uma das muitas jovens desprezadas por
Narciso, erguendo as mãos para o céu, disse:
— Que Narciso ame também com a mesma
Narciso imóvel como uma estátua, contemplando seus próprios olhos, seus cabelos dignos de Dioniso
intensidade sem poder possuir a pessoa amada!
Nêmesis, a divindade punidora do crime e das
más ações, escutou esse pedido e o satisfez.
Havia uma fonte límpida, de águas prateadas e cristalinas, de que jamais homem, animal ou pássaro algum se tinham aproximado. Narciso, cansado pelo esforço da caça, foi descansar por ali. Ao se inclinar para beber da água da fonte, viu, de repente, sua imagem refletida na água e encantou-se com a visão. Fascinado, quedou ou Apolo, suas faces lisas, seu pescoço de marfim, a beleza de seus lábios e o rubor que cobria de vermelho o rosto de neve. Apaixonou- se por si mesmo, sem saber que aquela imagem era a sua, refletida no espelho das águas.
Nada conseguia arrancar Narciso da contemplação, nem fome, nem sede, nem sono. Várias vezes lançou os braços dentro da água para tentar inutilmente reter com um abraço aquele ser encantador. Chegou a derramar lágrimas, que iam turvar a imagem refletida. Desesperado e quase sem forças, foram estas suas últimas palavras:
— Ah!, menino amado por mim inutilmente!
Adeus!
O lugar em que estava fez ecoar o que dissera. E quando proferiu “Adeus!”, Eco também disse “Adeus!”.

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